Vídeo: Recife - PE a Capital do Nordeste
Veneza brasileira
Dia infeliz aquele em que a História chamou Domingos Calabar de traidor. Na verdade, o pernambucano que colaborou com os holandeses na invasão de Recife, no século XVII, fez bem à cidade ao virar as costas para os portugueses, colonizadores menos dispostos a investir. Graças à Holanda, o recifense viu nascer pontes, hoje há cerca de 60 delas, e belíssimos casarios, ainda existentes.
Mais de 370 anos depois, Recife mantém sua história e recebe o turista com quitutes como o bolo de rolo, obras de arte em cerâmica, o maior carnaval de rua do mundo e praias de águas azuis. Enfim, um conjunto de atributos que deixam boquiabertos os visitantes.
Um passeio a pé por Recife é um bom começo. Nos hotéis da cidade, tapioca no café da manhã, que dá energia para a caminhada por bairros antigos. No trajeto em direção ao centro, encontros com alguns imortais. Explica-se: há esculturas de Clarice Lispector, na Praça Maciel Pinheiro, e do poeta João Cabral de Melo Neto, na Rua da Aurora. Nesse local, há ainda antigos sobrados e um museu de arte moderna. Você encontra, também, pelo caminho figuras de pedra, como Luiz Gonzaga e Manuel Bandeira.
Quem procura a orla, certamente passa por Boa Viagem. As placas de “cuidado com os tubarões” intimidam – há dezenas delas. Mas há trechos seguros e belíssimos, com piscinas de águas mornas protegidas por arrecifes.
Não é à toa que Recife é chamada de Veneza brasileira. Gôndolas passam sob as pontes. A bordo do Catamarã, navega-se pelo Rio Capibaribe, em meio às três ilhas que formam o centro de Recife, suas pontes, edificações e paisagens.
No passeio de 1 hora, o guia pontua curiosidades, como a origem da festa do Boi Voador – o colonizador holandês Maurício de Nassau prometeu fazer um boi voar em seu baile para arrecadar fundos para construir uma ponte. Aliás, para não dizer que não sentimos saudades dos portugueses, eles inventaram o pedágio rodoviário.
O trajeto do Catamarã resume a história da cidade, ao mostrar a praça do Marco Zero, onde sua fundação começou, e esculturas da família Brennand. O povo de Recife é, talvez, um de seus maiores patrimônios. De conversa fácil, o recifense tem orgulho de sua terra, que vive a tensão entre o progresso e a manutenção do antigo. O boom imobiliário chegou. Há duas torres, gigantes, de apartamentos de luxo com barcos na garagem.
Por outro lado, o problema de distribuição de renda é sério. Mas nada que comprometa a região, vizinha do sertão de onde saiu, anos atrás, uma retirante com oito filhos, e um deles se tornou presidente da República.
Cidade investe na capacitação turística
Recife já não é mais a mesma. O turismo anda se profissionalizando, um exemplo a ser seguido no país. Administração pública e hoteleiros estão produzindo um bairrismo pra lá de exportável e consistente. Paralelamente, prefeitura, empresários e governo tentam driblar um dos entraves que restam, o turismo sexual. A campanha “Exploração Sexual de Crianças? Desculpe-nos, não temos este serviço! Por favor, não insista!” é fruto de uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH/PE), Recife Convention Visitors Bureau e o Centro Integrado de Apoio Familiar (CIAF), organização não-governamental e sem fins lucrativos. O objetivo é estimular a cultura de prevenção junto aos profissionais liberais que atuam nas praias, entre outras iniciativas. Selos e cartazes com o slogan da campanha serão colocados nos quartos dos hotéis.
A pé ou de barco
Trinta e seis recifenses foram treinados pela prefeitura e sindicatos para guiar turistas em passeios a pé pela cidade. São seis roteiros em caminhadas de quase 2 horas (haja fôlego!) cada uma. E você pode escolher o idioma: português, inglês e até Braille. Além disso, vai voltar para casa com um belo material, como cartões-postais, camisas, bonés e vídeos. O investimento para profissionalizar o turismo foi de R$ 5 milhões, só neste ano. Veja os roteiros e escolha o seu:
1. O Coração do Recife
Esse roteiro mostra as edificações representativas do poder Executivo, do Judiciário e das finanças. Nele também está o Convento Franciscano de Santo Antônio e sua magnífica Capela Dourada.
2. Marco Zero, onde o Recife começa
Contempla referências culturais remanescentes do século XVI ao XIX, exemplares da arquitetura civil, militar e religiosa. Seu marco inicial é o chamado Marco Zero.
3. Revolução e Fé
Pernambuco destacou-se no país como símbolo revolucionário contra a dominação portuguesa ao longo do século XIX. Três importantes rebeliões de cunho libertário e separatista tiveram como palco a então província: as revoluções de 1817, 1824 e 1848. Esse roteiro tem início na Praça da Independência e se prolonga pelas igrejas, exemplares da arte barroca no Brasil.
4. O Recife do século XIX
Ruas inteiras, edifícios e equipamentos públicos surgiram no Recife para atender às mudanças profundas que ocorreram durante o século XIX. A nova fisionomia da cidade passou a contar com edificações grandiosas ligadas aos transportes ferroviários, à justiça e à educação. O roteiro começa na Rua da Aurora, às margens do Rio Capibaribe, adornada por um antigo casario pontilhada por esculturas. No percurso, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães e o belo visual das pontes Princesa Isabel, Duarte Coelho, da Boa Vista e Velha.
5. Dos Holandeses aos Mascastes
Edificações militares, integrantes do sistema de fortificação implantado no século XVII pelos holandeses, podem ser vistas na cidade. Depois dos flamengos, o Recife evoluiu com base na economia inovadora dos mascastes portugueses. Retomada a religião católica, as igrejas e os seus pátios transformaram-se em lugar de destaque na vida social recifense. Ruas e travessas tortuosas, parte da Mauriciópolis fundada por Maurício de Nassau, passaram a reunir a maior parte do comércio varejista da cidade. As características do comércio mascatal – irregular, agitado e folclórico – constituem as referencias marcantes desse espaço do Recife.
6. Da Boa Vista à Santa Cruz
O Recife expandiu-se do núcleo mais antigo, próximo a área portuária, em direção ao continente a partir de meados do século XVIII. Este roteiro assinala equipamentos urbanos, logradouros públicos e exemplares da arquitetura civil e religiosa que deram vida e compõem a paisagem da cidade.
Recife de fora para dentro: a cidade vista pelo mar
Passeio de Catamarã: trajeto pelo rio Capibaripe, com visão das três ilhas que cercam Recife. O pôr-do-sol no retorno ao cais é belíssimo. Saídas diárias do Bar do Catamarã, no Cais das Cinco Pontas.
Reservas: (81) 3424-2845.
Neyla Tardin (em A Gazeta)
Veneza brasileira
Dia infeliz aquele em que a História chamou Domingos Calabar de traidor. Na verdade, o pernambucano que colaborou com os holandeses na invasão de Recife, no século XVII, fez bem à cidade ao virar as costas para os portugueses, colonizadores menos dispostos a investir. Graças à Holanda, o recifense viu nascer pontes, hoje há cerca de 60 delas, e belíssimos casarios, ainda existentes.
Mais de 370 anos depois, Recife mantém sua história e recebe o turista com quitutes como o bolo de rolo, obras de arte em cerâmica, o maior carnaval de rua do mundo e praias de águas azuis. Enfim, um conjunto de atributos que deixam boquiabertos os visitantes.
Um passeio a pé por Recife é um bom começo. Nos hotéis da cidade, tapioca no café da manhã, que dá energia para a caminhada por bairros antigos. No trajeto em direção ao centro, encontros com alguns imortais. Explica-se: há esculturas de Clarice Lispector, na Praça Maciel Pinheiro, e do poeta João Cabral de Melo Neto, na Rua da Aurora. Nesse local, há ainda antigos sobrados e um museu de arte moderna. Você encontra, também, pelo caminho figuras de pedra, como Luiz Gonzaga e Manuel Bandeira.
Quem procura a orla, certamente passa por Boa Viagem. As placas de “cuidado com os tubarões” intimidam – há dezenas delas. Mas há trechos seguros e belíssimos, com piscinas de águas mornas protegidas por arrecifes.
Não é à toa que Recife é chamada de Veneza brasileira. Gôndolas passam sob as pontes. A bordo do Catamarã, navega-se pelo Rio Capibaribe, em meio às três ilhas que formam o centro de Recife, suas pontes, edificações e paisagens.
No passeio de 1 hora, o guia pontua curiosidades, como a origem da festa do Boi Voador – o colonizador holandês Maurício de Nassau prometeu fazer um boi voar em seu baile para arrecadar fundos para construir uma ponte. Aliás, para não dizer que não sentimos saudades dos portugueses, eles inventaram o pedágio rodoviário.
O trajeto do Catamarã resume a história da cidade, ao mostrar a praça do Marco Zero, onde sua fundação começou, e esculturas da família Brennand. O povo de Recife é, talvez, um de seus maiores patrimônios. De conversa fácil, o recifense tem orgulho de sua terra, que vive a tensão entre o progresso e a manutenção do antigo. O boom imobiliário chegou. Há duas torres, gigantes, de apartamentos de luxo com barcos na garagem.
Por outro lado, o problema de distribuição de renda é sério. Mas nada que comprometa a região, vizinha do sertão de onde saiu, anos atrás, uma retirante com oito filhos, e um deles se tornou presidente da República.
Cidade investe na capacitação turística
Recife já não é mais a mesma. O turismo anda se profissionalizando, um exemplo a ser seguido no país. Administração pública e hoteleiros estão produzindo um bairrismo pra lá de exportável e consistente. Paralelamente, prefeitura, empresários e governo tentam driblar um dos entraves que restam, o turismo sexual. A campanha “Exploração Sexual de Crianças? Desculpe-nos, não temos este serviço! Por favor, não insista!” é fruto de uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH/PE), Recife Convention Visitors Bureau e o Centro Integrado de Apoio Familiar (CIAF), organização não-governamental e sem fins lucrativos. O objetivo é estimular a cultura de prevenção junto aos profissionais liberais que atuam nas praias, entre outras iniciativas. Selos e cartazes com o slogan da campanha serão colocados nos quartos dos hotéis.
A pé ou de barco
Trinta e seis recifenses foram treinados pela prefeitura e sindicatos para guiar turistas em passeios a pé pela cidade. São seis roteiros em caminhadas de quase 2 horas (haja fôlego!) cada uma. E você pode escolher o idioma: português, inglês e até Braille. Além disso, vai voltar para casa com um belo material, como cartões-postais, camisas, bonés e vídeos. O investimento para profissionalizar o turismo foi de R$ 5 milhões, só neste ano. Veja os roteiros e escolha o seu:
1. O Coração do Recife
Esse roteiro mostra as edificações representativas do poder Executivo, do Judiciário e das finanças. Nele também está o Convento Franciscano de Santo Antônio e sua magnífica Capela Dourada.
2. Marco Zero, onde o Recife começa
Contempla referências culturais remanescentes do século XVI ao XIX, exemplares da arquitetura civil, militar e religiosa. Seu marco inicial é o chamado Marco Zero.
3. Revolução e Fé
Pernambuco destacou-se no país como símbolo revolucionário contra a dominação portuguesa ao longo do século XIX. Três importantes rebeliões de cunho libertário e separatista tiveram como palco a então província: as revoluções de 1817, 1824 e 1848. Esse roteiro tem início na Praça da Independência e se prolonga pelas igrejas, exemplares da arte barroca no Brasil.
4. O Recife do século XIX
Ruas inteiras, edifícios e equipamentos públicos surgiram no Recife para atender às mudanças profundas que ocorreram durante o século XIX. A nova fisionomia da cidade passou a contar com edificações grandiosas ligadas aos transportes ferroviários, à justiça e à educação. O roteiro começa na Rua da Aurora, às margens do Rio Capibaribe, adornada por um antigo casario pontilhada por esculturas. No percurso, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães e o belo visual das pontes Princesa Isabel, Duarte Coelho, da Boa Vista e Velha.
5. Dos Holandeses aos Mascastes
Edificações militares, integrantes do sistema de fortificação implantado no século XVII pelos holandeses, podem ser vistas na cidade. Depois dos flamengos, o Recife evoluiu com base na economia inovadora dos mascastes portugueses. Retomada a religião católica, as igrejas e os seus pátios transformaram-se em lugar de destaque na vida social recifense. Ruas e travessas tortuosas, parte da Mauriciópolis fundada por Maurício de Nassau, passaram a reunir a maior parte do comércio varejista da cidade. As características do comércio mascatal – irregular, agitado e folclórico – constituem as referencias marcantes desse espaço do Recife.
6. Da Boa Vista à Santa Cruz
O Recife expandiu-se do núcleo mais antigo, próximo a área portuária, em direção ao continente a partir de meados do século XVIII. Este roteiro assinala equipamentos urbanos, logradouros públicos e exemplares da arquitetura civil e religiosa que deram vida e compõem a paisagem da cidade.
Recife de fora para dentro: a cidade vista pelo mar
Passeio de Catamarã: trajeto pelo rio Capibaripe, com visão das três ilhas que cercam Recife. O pôr-do-sol no retorno ao cais é belíssimo. Saídas diárias do Bar do Catamarã, no Cais das Cinco Pontas.
Reservas: (81) 3424-2845.
Neyla Tardin (em A Gazeta)
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