domingo, 30 de agosto de 2009

Peru o novo point da América do Sul


País esbanja belezas naturais, história e gastronomia para virar o novo destino da vez. E ainda é mais barato que Chile e Argentina

LIMA – Uma reportagem no programa Fantástico, da TV Globo, causou um trauma tão grande que, durante pelo menos 20 anos, visitar o Peru ficou de fora dos meus roteiros turísticos. Muito mais do que a ameaça das ações terroristas do Sendero Luminoso. Uma das maravilhas do mundo, Machu Picchu mereceu todo o destaque na edição daquele domingo remoto, sem controle remoto. Seria uma expedição a pé e a casco de mulas a partir de Cuzco, pela famosa Trilha Inca – talvez três ou seis dias, não lembro. É apenas um detalhe. Tudo seria encantador e parecia valer o esforço incaico olímpico da equipe nos dias de caminhada. Mas tinha um porém: a repórter Glória Maria. Durante a exibição, ela deve ter falado pelo menos umas mil vezes o nome Machu Picchu. Machu Picchu repetido como um mantra cansa. E ela fez uma cara de sofreguidão a cada trecho percorrido, uma cara tão medonha que até quem estava em casa, na poltrona, teve o soroche, o mal da altitude, ficou com falta de ar, meio tonto, querendo uma bombinha para asma ou inalação de oxigênio puro. Agora o trauma foi superado.

Visitar Machu Picchu, passar pelo menos um dia, uma tarde, um pôr de sol meditando, contemplando a sua arquitetura, engenharia e beleza, se espantando com tudo, por si só, vale uma viagem ao Peru. É inesquecível. Você vai querer ligar pelo celular para a família, amigos, namorada. E vai conseguir, sim senhor.


O país, porém, tem muito mais a oferecer: em beleza natural e cultura – gastronomia, artesanato e tradição. Lembre-se: é berço da civilização pré-colombiana dos incas. Qualquer visita será incompleta se não incluir no roteiro Lima (Miraflores, San Isidro e Barranco), a cidade branca de Arequipa e o vulcão Misti, as linhas de Nazca, o cânion do Vale do Colca, Puno às margens do Lago Titicaca com as Ilhas dos Uros, as ruínas e as trilhas incas de Cuzco, as lagunas e picos nevados de Huaraz, na Cordilheira Branca, a exuberância amazônica de Iquitos, as falésias de Tumbes e Mâncora ao Norte, as praias das águas geladas da Corrente de Humboldt ao Sul, em Las Lomas, Paracas Ilhas Ballestas e Puerto Inca. E tudo com um precinho mais em conta do que os vizinhos Argentina, Uruguai e Chile.

Para o turista gourmet, a projeção internacional da gastronomia peruana pelas mãos do chef Gastón Acurio é um excelente motivo para pegar um voo para o Rio ou São Paulo e de lá seguir para Lima. Gastón abriu recentemente seu primeiro restaurante no Brasil. Na capital paulista, inaugurou filial da cevicheria La Mar. A gastronomia é um dos maiores orgulhos nacionais – Lima se diz a capital gastronômica da América Latina. Gastón é um misto de midas e popstar. Com a esposa, abriu o Astrid y Gastón, em Lima, e depois o La Mar. Hoje, está presente em 14 países, com 41 restaurantes.

No Recife, os pernambucanos já podem saborear, antes de embarcar, um pouco das iguarias da cozinha peruana contemporânea, com ascendência nikkei, no restaurante Chiwake, do chef Aníbal Fernandes, Biba, no Kojima, do chef Alexandre Faeirnstein, ou em festivais da chef limenha Belén Páramo.

Para uma viagem inesquecível ao Peru, boa dose de planejamento é essencial. Afinal, é o terceiro maior país da América Latina, com 1,285 milhão de km². Os peruanos se orgulham de ter um pouco de tudo em termos de clima e geografia – possui 84 dos 114 ecossistemas do mundo. A costa é banhada pelo Oceano Pacífico ao longo de seus 2.400 km e é formada pelas falésias do deserto litorâneo (la costa). É cortado de cima a baixo pelos Andes (la sierra), chegando a quase sete mil metros de altura no nevado Pico Huascarán e a 400 km de largura. E ainda se embrenha pela Floresta Amazônica (la selva), que equivale a quase 60% do país, que faz fronteira com o Equador, Colômbia, Brasil, Bolívia e Chile.

Depois de décadas de turbulência política e crise econômica, o Peru vive um momento de certa estabilidade, embora não tenha se livrado de três males: corrupção, miséria e violência. Estava em ritmo acelerado de crescimento, com o preço de suas principais commodities em alta – cobre, zinco, ouro, milho, arroz e pesca (é o segundo maior produtor do mundo) –, quando também foi pego pela crise mundial. A boa fase pode ser vista no novo boom imobiliário de Lima e no investimento bilionário na duplicação da Carretera Panamericana, que corta o país de Norte a Sul pelo litoral – de Tumbes, na fronteira com o Equador, a Tacna, na fronteira com o Chile.

Marcelo Pereira

JC Online

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