quinta-feira, 1 de março de 2012

Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, aos 447 anos

Rio, que completa 447 anos, ainda surpreende com atrações que vão além dos cartões-postais
Cidade está em eterna transformação, mas ainda conserva sua beleza natural

RIO - Senhora cidade, que nesta quinta-feira completa 447 anos, o Rio de Janeiro é uma maravilha em constante transformação. Ainda tem muito do paraíso encontrado por Estácio de Sá, quando a fundou em 1565, e coisas absolutamente novas, trazidas pelo progresso e pelo estilo de vida inquieto e criativo de seus moradores. A beleza natural ainda se mistura a prédios históricos, mas novas construções, estradas, túneis e viadutos abriram caminho para paisagens em que o antigo e o moderno flertam. Com áreas pacificadas e às vésperas da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, mais novidades são esperadas. Quem quiser conhecer o Rio de verdade vai descobrir um roteiro eclético para além dos cartões-postais, tão bom quanto ir ao Pão de Açúcar ou ao Cristo.

O Cristo Redentor e o bondinho do Pão de Açucar, numa bela imagem da cidade que completa 447 anos Custódio Coimbra / O Globo
O Rio inventado pelo carioca, seja ele nascido aqui ou não, é quase uma afirmação de identidade. Entre as ideias que dão samba, está a feijoada nas quadras de escolas como Portela e Mangueira, só para citar algumas, que fora do período de carnaval garantem folia para o ano todo. Como há criatividade de sobra, outros ritmos entram no calendário de programas que estão caindo no gosto, mesmo exigindo disposição extra, como uma viagem até o subúrbio de Madureira só para dançar black music sob o Viaduto Negrão de Lima na tranquilidade. Beber cerveja enquanto se aprecia o pôr do sol na mureta da Urca, mesmo não figurando em folhetos turísticos, já é um clássico. Assim como se juntar a uma multidão para uma roda de samba, ao ar livre, na Pedra do Sal, na subida do Morro da Conceição, onde estão remanescentes de quilombos. E por aí vai... São programas que dão tempero à cidade, onde nada acontece por acaso.

Música e antiguidade no Lavradio

À medida que o tempo passa, algumas atrações do roteiro off vão se tornando quase obrigatórias e turistas buscam, cada vez mais, o lado B da cidade. A Rua do Lavradio, que concentra antiquários no Centro, é o endereço de um dos eventos mais charmosos da cidade, para antes ou depois da praia: a Feira do Rio Antigo. Além de lojas e barracas de expositores, restaurantes oferecem cardápio variado e há shows musicais para todos os gostos.

É um espaço democrático, perto da Lapa, que é outro ponto de encontro dos cariocas. Gosto de almoçar nos restaurantes e andar pela rua, que é fresquinha mesmo nos dias mais quentes diz a aposentada Marisa Barros, frequentadora assídua da feira.

A praia passou por releituras. No verão, é cada vez mais comum encontrar as areias do Arpoador lotadas. À noite. Desde a inauguração de uma iluminação especial, o programa ganhou mais adeptos, prolongando o prazer de quem gosta de um mergulho gelado ou simplesmente de ver o mar. Para o surfista Rico de Souza, a praia é o local mais democrático do mundo.

Viajei para vários países, mas o astral carioca, a maneira que a gente leva a vida, nunca vi em lugar nenhum.

Mas não é apenas o improviso que explica a efervescência da cidade que exala história mas mantém seu estoque de novidades. À luz da ciência, os cariocas também são bambas. A revitalização da Lapa, por exemplo, é fruto de um empreendedorismo cultural bem sucedido, segundo Leo Feijó, consultor do Instituto Gênesis da PUC-Rio, na gerência da Incubadora Rio Criativo.

A Lapa era pouco explorada pelo poder público. Hoje são mais de 50 casas. É a Lapa do cartão-postal, do samba, mas não é só isso diz Leo, um entusiasta do projeto. Eu assumi quatro casas na Lapa preservadas pelo Corredor Cultural, que estavam destruídas, e recuperei tudo. As pessoas têm que botar a cabeça para fora da água e ver que a cidade é muito mais do que o circuito Zona Sul.

Porto: promessa de novidades no futuro

Leo, que já abriu mais de dez casas no Rio, entre as quais a Casa da Matriz, em Botafogo, e é um dos pioneiros no resgate da Lapa, diz que é preciso entender para onde a cidade cresce, porque ela não para. E cada lugar tem sua vocação. Para ele, a agora é a vez da Zona Portuária, que promete dar o que falar nos próximos aniversários do Rio.

A revitalização dessa área pode ser um cluster criativo acredita Leo, apostando que ali surgirá um polo com características próprias, fenômeno parecido com o que aconteceu na Lapa.

Mais mudanças ainda virão até as Olimpíadas de 2016, como observa a arquiteta Fabiana Izaga, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ):

Até meados do século passado houve um aumento demográfico brutal. Começou por Copacabana, Glória, Botafogo e depois chegou até alguns subúrbios ligados à linha do trem. Até 1960, a cidade tinha tudo o que tem hoje, menos a Barra da Tijuca. Entre 1930 e 1960, surgiram túneis, vias expressas, a Perimetral, o Aterro do Flamengo. Copacabana ganhou as pistas duplicadas diz Fabiana Izaga. Nos próximos quatro anos, teremos todas as trans (corredores expressos), que vão expandir a cidade. Já temos uma ponte estaiada (a Ponte do Saber, que liga a UFRJ à Linha Vermelha).

 | O Globo

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