O vilarejo de Bugarach no Languedoc, próximo dos Pirineus, é tido como um lugar seguro segundo as profecias e boatos do Apocalipse previsto para o próximo dia 21 que circulam pela web. As hipóteses catastróficas sãos as mais incríveis e se baseiam nas profecias do calendário Maia, nas profecias de Nostradamus e, principalmente, em boatos. Chegada de extraterrestres, mudança do polo magnético da Terra devido a uma conjunção planetária, fim do mundo segundo algumas interpretações do calendário mesoamericano ou mesmo a colisão de um cometa, possibilidade desmentida pela NASA fazem parte da lista de crenças.
O fato é que a cidade atraiu a curiosidade da imprensa francesa e mundial. Nada disso perturbou, nesta segunda-feira (17), a saída das crianças ao fim da aula do jardim de infância municipal, que terminou exatamente às 16 horas, como de hábito, e o ônibus escolar aguardava os pequenos para levá-los às suas casas.
Bugarach é uma cidade que tem apenas duas ruas e atrai turistas em busca de trilhas e caminhadas em plena natureza. Desde os anos 60, a aldeia se tornou refúgio de hippies e adeptos da vida natural, uma espécie de Visconde de Mauá francesa. Um dos lugares mais visitados são as galerias subterrâneas do Pico de Bugarach, a 1231 metros de altitude, ponto culminante do departamento do Aude.
Os boatos apontam para uma nova Arca de Noé, constituída com aqueles que estiverem nessas galerias no dia 21. O prefeito Jean Pierre Delord, preocupado com a proteção dos quase duzentos moradores do vilarejo, pediu providências ao governo francês. O "Préfet", representante do presidente no departamento, Eric Freysselinard, publicou uma portaria no último dia 14, restringindo drasticamente a circulação em Bugarach e seu entorno.
Convocou ainda a Gendarmerie Nationale, a polícia militar francesa, que enviou 50 policiais para bloquear o acesso a não moradores, pessoas não credenciadas e ainda proibiu qualquer acampamento selvagem do dia 19 ao dia 23 de dezembro. Na portaria ficou também proibido voar no espaço aéreo da cidadezinha, seja de helicóptero ou avião. Será que a ordem impedirá a chegada de discos voadores?
A aldeia é essencialmente agrícola e sua atividade principal é a pecuária leiteira, de vacas e ovelhas, que garante uma boa produção de queijos. O vinho é produzido a uns poucos quilômetros abaixo da montanha em Cuiza, uma cidadezinha da Denominação de Origem Limoux, também situada no departamento do Aude.
O ponto central de Bugarach é a mercearia e café Relais de Bugarach. É ali que os moradores, turistas e passantes param para se aprovisionar, tomar um café ou comprar um souvenir. Oferece vinho orgânico, vinho sem sulfitos (conservante necessário à longevidade do vinho), chá, café expresso, livros esotéricos, mel, pão, queijo, sempre que possível, orgânicos.
O perfil do público mudou com a maciça presença da polícia militar, isto é, 'sujou', diriam os velhos hippies. Esse tipo de público, ao lado de andarilhos, deram lugar a curiosos da boataria e a jornalistas de todo o mundo. A imprensa transformou a mercearia em quartel-general e ponto de encontro. Enviados especiais de TV, rádio, internet e imprensa escrita têm desembarcado diariamente no vilarejo.
A CNN mandou uma equipe de Paris, o Canal 5 francês enviou a equipe de reportagem do programa jornalístico C dans L'Air e também já estão presentes o jornal Daily Mail, do Reino Unido, A Gazetade Antuérpia e a TV americana NBC.
Magnetismo e a montanha de ponta cabeça
Uma das hipóteses de Apocalipse mais comentadas é a da inversão dos polos magnéticos da Terra. Bugarach escaparia desta catástrofe, porque sua montanha é composta de camadas geológicas invertidas. Durante o processo tectônico de formação dos Pirineus, período Terciário, esta formação rochosa teve os extratos calcários mais antigos, datando de 135 milhões de anos, posicionados na parte superior e os mais recentes, de 15 milhões de anos, na parte inferior. Ou seja, sua formação rochosa está de ponta cabeça.
Para quem leu o best-seller Código da Vinci, de Dan Brown, livro que o inspirou A Linhagem Sagrada, dos ingleses Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leight, sabe que muitas histórias e segredos se escondem no departamento do Aude. Rennes-le-Château é o vilarejo onde a trama dos dois livros começa. É lá que o abade Saunières, no final do século XIX, descobre um tesouro ou um segredo: a prova de que a dinastia Merovíngia seria descendente em linha direta de Jesus Cristo.
A Igreja nunca confirmou oficialmente os boatos, mas após o abade informar Roma de sua descoberta, sua pequena abadia recebeu enormes recursos e privilégios. Rennes-le-Château é o vilarejo mais próximo de Bugarach. Tal qual a cidade de Varginha, Minas Gerais, a central de boatos diz que não é difícil ver ÓVNIS. Em tempo: Bugarach ainda não tem nenhuma cidade irmã.
jb.com.br
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