sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Deserto do Atacama hipnotiza e surpreende

Acima das nuvens, deserto do Atacama hipnotiza e surpreende
Pôr do sol sobre o deserto de Atacama.

Espremido entre a cordilheira dos Andes, a leste, e o oceano Pacífico, a oeste, o Chile é o país mais estreito do mundo. Mais peculiar ainda é abrigar, em quase toda a sua região norte, um deserto acima das nuvens, que esconde jazidas minerais e a maior reserva de cobre, lítio, nitrato e iodo do planeta.

Chega a ser surreal explorar parte dos 363 mil quilômetros quadrados do deserto do Atacama. A altitudes que variam de 2.300 m a 6.893 m, ele desnorteia ora pela beleza estéril, ora pela força da natureza. Uma revelação para os sentidos, uma prova para o corpo.

Monumentais colunas de pedra no salar de Tara;
deserto do Atacama possui áreas a quase
7.000 metros de altitude
Há quem diga ter vivido ali experiências únicas, visões do passado e do futuro. O fato é que, a 4.000 m de altitude, não há como escapar da hipoxia (baixo teor de oxigênio), que tem como conseqüência a diminuição da atividade do sistema nervoso central.

Sim, o deserto hipnotiza e surpreende, mesmo com um clima extremamente árido --o mais seco do mundo, que faz os olhos e o nariz arderem--, mesmo com sensações térmicas até então desconhecidas --sim, estamos falando de 30ºC negativos.


Milhões de anos de transformações geológicas deram origem a cordilheiras, vulcões, salares e lagoas que se misturam a um céu turquesa sem nuvens, salpicado de estrelas e a uma flora e uma fauna únicas. Uma paisagem de, literalmente, tirar o fôlego.

Como um oásis, San Pedro de Atacama, um povoado com 4.969 habitantes a 2.443 m de altitude, é a porta de entrada para esse deserto. Fica a pouco mais de uma hora de carro de Calama, cidade em que pousam os vôos regionais e que detém o recorde mundial de 400 anos sem chuva (1571/1971).

Mesmo pequena, San Pedro tem em seu passado uma vasta história. Os primeiros habitantes, ex-nômades, instalaram-se lá há 11 mil anos, desenvolveram a irrigação e a agricultura, domesticaram alpacas e lhamas, inventaram a cerâmica e transformaram o vilarejo na ''capital arqueológica do Chile''.

Para vasculhar cada canto do Atacama, seriam precisos 90 dias, calcula Luis Bazzaza, guia experiente da região. Caindo no mundo real, cinco noites é o mínimo, assim como uma mala muito bem preparada, onde não há espaço algum para vaidades.

A maioria dos hotéis inclui os passeios nos pacotes, e subir às alturas chega a ser um impulso irresistível para quem está aos pés da mais longa cadeia de montanhas do mundo. Mas, como alerta Carlos Gerk, especialista em medicina de altitude, é preciso dar tempo para o corpo adaptar-se. E é assim, gradualmente, que as "escaladas" devem ser programadas. Nada de ascender cumes e vulcões de mais de 5.500 m, que podem terminar em edemas pulmonar e cerebral para quem não está devidamente preparado.

Erosões milenares

Patrícia Trudes da Veiga/Folha Imagem
Gêiseres do Tatio; local fica a 4.320 metros de altitude na região do deserto do Atacama

Para perder o prumo logo no primeiro dia e ter a exata dimensão de um deserto, o vale da Lua e o vale da Morte (ambos a 2.569 m) são um bom começo. Não há nada por lá, nem uma planta, nem um ser vivo. Areia, minerais, gesso e terra, em formações bastante peculiares, lembram a superfície da Lua.

Gêiseres do Tatio observados ao amanhecer; local fica a
 4.320 metros de altitude na região do deserto do Atacama
Pouco adiante, ergue-se a cordilheira do Sal, antigo lago cujas placas tectônicas se elevaram pelos mesmos movimentos da crosta terrestre que originaram a cordilheira dos Andes. Suas erosões milenares são espetaculares, uma aula de ciências, ao meio-dia com o sol a pino.

À tarde, o destino é o salar de Atacama (2.300 m). A paisagem muda radicalmente, e a vegetação resiste bravamente numa planície com quase 100 km de extensão coberta de sal, de onde afloram lagoas azuis habitadas por flamingos.

Já no segundo dia, há quem, como a repórter, ignore recomendações médicas e meteorológicas e dê um passo além do que devia. Rumo ao salar de Tara, na fronteira com a Bolívia, a mais de 4.000 m, o carro sacoleja. A cabeça dói, a náusea aparece. Nem chá de coca resolve.

Mas nessa planície desolada surgem monumentais colunas e paredões de pedra. E não dá para caminhar de encontro a eles. Com ventos frios a 70 km/h e temperatura abaixo de zero, o meteorologista da USP Mario Festa calcula uma sensação térmica de 32ºC negativos. O frio é de matar. Tudo perde a graça.

O guia ensina, então, a tomar água, muita água. O melhor seria água-de-coco, corrige o professor Gerk, já que, "com o ar seco, a cada respiração, perdemos também eletrólitos". O problema é que não há banheiros no meio do deserto. E aventurar-se atrás das rochas, com os termômetros abaixo de zero, não é nada fácil.
Vale do Arco-iris

Vilinha lúdica

O terceiro dia começa de madrugada. É hora de sacolejar duas horas, de estômago vazio, rumo aos gêiseres do Tatio, a 4.320 m. Ao chegar, com o sol nascendo e a cabeça explodindo, parece um sonho: centenas de jatos de água fervente são expelidos do solo, atingindo 10 m de altura. O fenômeno, que dura poucas horas, ocorre quando as águas frias de rios subterrâneos encontram as lavas vulcânicas.

Depois de um café da manhã improvisado em meio a um cenário vulcânico, passa-se pela encantadora Machuca, vila que parece uma pintura infantil, com apenas nove casas de adobe, e cruza-se com lhamas e vicunhas até chegar às termas de Puritana, onde, assim como no Tatio, há piscinas naturais de água clara e quentíssima -de 30ºC a 40ºC.

Na última noite no deserto, é hora de, pela primeira vez, tirar vantagem dos 7% de umidade média relativa do ar. Não é para menos que lá estão instalados 34 radiotelescópios. É impossível tirar os olhos de estrelas, galáxias e nebulosas, que parecem estar ao alcance da mão. E de esquecer a imagem dos anéis de Saturno.

Patrícia Trudes da Veiga viajou a convite da LAN Airlines e do hotel Tierra Atacama, com o apoio dos hotéis Awasi e Explora.

Para quem
Aventureiros que colocam o corpo à prova e buscam uma revelação para os sentidos, explorando cordilheiras, vulcões, salares e lagoas, em meio a um céu azul-turquesa sem nuvens, repleto de estrelas e com uma flora e uma fauna únicas

Quando ir
O ano inteiro (evite a lua cheia, que "esconde" as estrelas); os meses de meia-estação são os melhores, com temperaturas mais amenas; no inverno (de junho a agosto), ela varia de 9ºC a 24ºC, caindo para abaixo de zero nas madrugadas

Como chegar
De avião, o vôo Santiago-Calama dura 1h45; até San Pedro de Atacama, mais uma hora e meia de carro

Hora local
-1h em relação a Brasília

PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
da Folha de S.Paulo


Deserto do Atacama, impressionante do começo ao fim

Lago de sal no deserto de Atacama no Chile
Gêiseres, vulcões, lagoas altiplânicas, ruínas incas. Isso é só uma amostra do que se pode encontrar no Deserto do Atacama, considerado o mais alto e mais seco do mundo. Localizado na região norte do Chile, possui cerca de 200 km de extensão e paisagens fantásticas.

Indícios arqueológicos acusam a presença do homem há mais de 11 mil anos. Até hoje pode-se admirar as ruínas de Tulor, uma cidadela de casas circulares, nas margens secas do rio San Pedro, que data de quase 3 mil anos atrás. Esta cidadela está muito próxima de um dos cartões postais do Atacama, o Vale da Lua, uma enorme depressão no meio da cordilheira do Sal que se assemelha muito a paisagem lunar.

A leste dali, fica o Salar de Atacama, uma depressão entre a cordilheira andina e a cordilheira Domeiko. Com mais de 100 quilômetros de comprimento, esta imensa planície foi há muitos séculos atrás um enorme lago preso entre as montanhas. Sem vertedouro natural, a única saída da água era por evaporação, o que permitiu que enormes quantidades de sais mineiras ficassem depositadas em seu fundo. Hoje, as águas subterrâneas afloram somente em alguns pontos na forma de pequenas lagoas e a camada de sal se estende até 1.500 m metros de profundidade.

O salar do Atacama é o maior do Chile e percorrê-lo é uma viagem inusitada. Apenas algumas estradas pavimentadas com sal cortam sua superfície enquanto trilhas levam a lagos repletos de flamingos, cercados de sal cristalizado.

Como as temperaturas no deserto variam entre 0ºC à noite e 40º durante o dia, existem poucas cidades e vilas no deserto. Mas a mais conhecida com certeza é San Pedro do Atacama. Com cerca de 3000 habitantes, está a 2500 metros de altitude, o que a torna bem isolada. Praticamente um oásis no meio do deserto, é o principal ponto de encontro de viajantes do mundo inteiro.

Lá, o Museu La Paige é uma das grandes atrações pois conta a história do povo atacamenho e possui várias múmias, sendo as mais antigas com 2 mil anos.

Um grande vulcão pode ser visto de quase todas as ruas da pequena vila. É o Licamcabur, adorado pelos nativos como uma divindade há milhares de anos. Nas suas encostas existem várias ruínas incas e sua cratera esconde uma lagoa que passa 10 meses por ano congelada.

Um pouco mais ao norte está o também ativo vulcão Tatio, que apesar de não soltar fumaça de sua cratera, provoca outro tipo de atividade. Na sua base oeste, está um dos mais importantes campos de gêiseres do mundo. Ali todos os dias, ao nascer do sol, dezenas de buracos no chão jorram água e vapor a vários metros de altura.

O deserto do Atacama surpreende a todos os viajantes. Basta simplesmente caminhar por algumas vilas milenares ou por entre as inúmeras cidades fantasmas que existem no deserto.



Autor: Redação 360 Graus

Um comentário:

Ines disse...

Maravilhoso este site!!! Estamos chegando no dia 11/11/11 em San Pedro do Atacama. Tudo que VC escreveu acrescentou muito ao que já havíamos pesquisado. Agradecemos a colaboração, pois só irá melhorar mais ainda o nosso roteiro com as suas dicas. inês e Carlos Henrique

Felicidades!