terça-feira, 30 de março de 2010

Islândia: O lugar do Gelo e do Fogo



O mais jovem país da Europa - geologicamente falando - ainda está em formação. Um pouco por todo o lado, no alto das montanhas e debaixo dos glaciares, há um rio de fogo que vai modificando a paisagem primitiva da ilha. Um olhar sobre a Islândia.



ISLÂNDIA, SOB O SIGNO DO FOGO

O nome dá uma ideia do que nos espera: “Ísland”, Terra de Gelo. E o nome não se deve apenas ao clima frio: a própria natureza é árida e agreste como gelo. Sobre o chão de lava escura pouco consegue crescer para além de líquenes e algumas plantas rasteiras; é a esta quase completa ausência de árvores que se deve a velha piada “se estiver perdido numa floresta islandesa, levante-se”.
Islândia
Islândia
Em Skaftafell, um dos parques naturais favoritos dos islandeses, umas bétulas finitas são carinhosamente visitadas por famílias, mas só por comparação com a magra vegetação do país é que podem ser classificadas de “árvores”. As que existiam foram sendo destruídas pelos primeiros colonos, e os rigores climáticos tornam o crescimento da flora extremamente lento - no Verão, as temperaturas não costumam ultrapassar os 14° C.
Cerca de um terço da ilha fica acima dos seiscentos metros de altitude e as montanhas tomam cores irreais graças à actividade vulcânica, com o sopé muitas vezes debruado a amarelos-enxofre, acompanhado de fumarolas e lagos de lama cinzenta e borbulhante. Este deve ser o melhor local do mundo para observar os movimentos de transformação do planeta. Para além das fumarolas e dos campos de lava, também há géiseres fabulosos, como o Strokkur, que chega a atingir vinte metros de altura - não admira que a palavra géiser venha do islandês geysir.


VULCÕES NA ISLÂNDIA

Islândia
Islândia
Quanto a vulcões, são mais de cem, e o Hekla e o Katla continuam perigosamente activos; mesmo debaixo das calotas de gelo, como a do Vatnajokull, que atinge os mil metros de espessura, brota o fogo da terra, derretendo e alterando constantemente a forma do glaciar. Enquanto ao longo da costa o mar banha os sandur, deltas de areia negra, o interior é de uma aridez lunar: planaltos desérticos de lava em vários tons de negro, rochas enormes, vulcões e rios que descem dos glaciares, mas que não conseguem dar vida às margens. De vez em quando, gigantescas quedas de água, como a Dettifoss, que tem o maior caudal da Europa (quinhentos metros cúbicos por segundo), atroam por desfiladeiros cada vez mais profundos. Quanto à actividade sísmica, basta dizer que Thingvellir, local histórico onde se reunia o que é considerado o mais antigo parlamento do mundo, também é o local de encontro entre as placas tectónicas europeia e americana.
Felizmente os islandeses não são indiferentes a nada disto. Faz parte da educação colectiva a responsabilização de cada um em relação a um equilíbrio tão precário, como é o da natureza nesta ilha. De forma pragmática e sistemática, o país aproveita os seus recursos sem os destruir. Por exemplo, o indispensável aquecimento dos edifícios é feito, em mais de 90% dos casos, através do aproveitamento geotérmico; o sistema eléctrico é alimentado quase na totalidade por fontes geotérmicas e hídricas. Mais do que isso, a Islândia tem ainda um projecto pioneiro para aproveitamento do hidrogénio líquido, que deve levar à substituição total dos combustíveis fósseis num prazo de trinta anos.


REIQUEJAVIQUE
A capital, Reiquejavique, é igual a todas as povoações que encontramos pela ilha fora, só que um bocadinho maior. Os prédios são raros e nunca muito altos, o trânsito é desafogado, as ruas largas, os canteiros ajardinados com flores garridas. Cerca de cento e setenta mil de um total de duzentos e cinquenta mil habitantes, vivem aqui. As ovelhas são bem mais abundantes: ultrapassam as setecentas mil, três vezes mais do que os islandeses. Akureyri, a segunda cidade, fica na costa norte, mas a paisagem urbana é a mesma, feita de casinhas baixas e garridas com um inexplicável ar de pré-fabricado.
Islândia
Islândia
A cerca de quarenta quilómetros da capital, a lagoa Azul deu fama à central geotérmica que lhe está adjacente. Só aqui nos podemos banhar ao ar livre em água naturalmente aquecida, opaca e azulada, num cenário de chaminés metálicas que nos remete para um filme de ficção científica. Na encosta dovulcão Krafla, um dos vinte e quatro furos com mais de dois mil e trezentos metros de profundidade, expele vapor a duzentos graus centígrados e o rugido assustador de uma panela de pressão prestes a rebentar. Junto ao lago Mývatn podemos apreciar a permanente reformulação da ilha: quando um dos vulcões da zona lançou lava para os pântanos que ali existiam, formou-se uma fila de falsas caldeiras, redondas e alinhadas, na borda do lago. Estes são apenas alguns dos locais onde é possível ver e sentir o nascimento e transformação do que é considerado como o mais jovem país da Europa, geologicamente falando.
Dizem os cientistas que, dentro de alguns milénios, se não tivermos conseguido acabar de vez com o planeta, é possível que existam até duas Islândias; uma linha de tensão avança de norte a sul da ilha, rasgando-a em duas, atravessando o glaciar de Vatnajokull em direcção a Fjallabak. O encanto da Islândia resulta justamente deste seu lado selvagem e do carácter efémero da sua beleza. Glaciares de um azul arrepiante, fumarolas sibilantes, lagoas de lama pálida e cones escuros de vulcões silenciosos são as memórias que ficam desta ilha feita de fogo.


QUEM MORA NA ISLÂNDIA
Intitulam-se “filhos dos vikings” porque, à parte algumas mal provadas permanências de monges irlandeses, os primeiros e definitivos colonos foram, de facto, escandinavos, sobretudo noruegueses. Entre 800 e 1066, durante o terror dos raides vikings que assolaram e ocuparam quase todo o território da Irlanda e da Grã-Bretanha, chegando mesmo à costa do Norte de África, muitos foram os nativos destas ilhas que se refugiaram na Islândia, misturando-se com as populações locais. A ilha tornou-se muito cedo uma província da Noruega e passou para as mãos da Dinamarca durante a União de Kalmar, que reunia estes dois países e a Suécia. A independência total só chegou em 1944. Tal como na Escandinávia, é nas sagas que podemos encontrar referências à vida dos primeiros colonos.
Islândia
Islândia
O isolamento relativo da ilha e a sua reduzida povoação não apagaram as suas raízes nórdicas, mas “congelaram” a língua, por exemplo; ainda hoje se fala uma língua arcaica, muito próxima da dos vikings - uma espécie de latim escandinavo. O mais antigo parlamento do mundo, o Althing, nasceu no século X, o que faz com que muitos considerem esta república a primeira democracia da Europa. Poderíamos acrescentar que é também uma das mais verdadeiras, dado que conjuga um sistema de saúde abrangente, uma assistência social sem exclusões e pouca diferença de salários entre, por exemplo, um médico e um pescador especializado. Ainda por cima, trabalhar é mesmo um hábito; os estudantes trabalham nas férias, que vão de Maio a Setembro, e muitos adultos arranjam trabalhos extra, já que o nível de vida da ilha não se compadece com férias. Tudo é importado, à excepção do peixe, dos derivados de ovinos e pouco mais, o que torna o país num dos mais caros do mundo.
No século XI, o cristianismo foi adoptado como religião do país, substituindo o panteão de deuses nórdicos. Apesar disso, a moral cristã nunca foi completamente absorvida pela população no que diz respeito, por exemplo, ao casamento. Ainda hoje, um terço das crianças da ilha nascem de pais muito jovens e não casados, sem que isso seja um problema para as respectivas famílias. E também por aqui continuam as histórias de duendes, fadas e gnomos, que habitam em determinados locais, cuidadosamente evitados por muitos. Diz-se que chegaram mesmo a ser alteradas construções e alguns traçados de estradas, para não incomodarem estas criaturinhas vingativas.


A ISLÂNDIA AO NATURAL
Islândia é uma das maiores ilhas do Atlântico Norte, com pouco mais que a área de Portugal. O Círculo Polar Árcticopassa poucos quilómetros a Norte da ilha principal, na pequena ilha de Grímsey. Geologicamente, é o mais jovem país da Europa e um dos vulcanicamente mais activos a nível mundial. De vez em quando uma erupção ocorre e o país é presenteado com mais uns quilómetros de território; foi o caso da ilha de Surtsey, por exemplo, que “nasceu” em 1963.
Islândia
Islândia
A nível da flora, para além dos líquenes que formam a tundra e de algumas bétulas dispersas, a zona mais rica e diversificada encontra-se na área do Parque Nacional de Skaftafell, no sul da ilha. As bétulas são maiores, assim como a sorveira. Abundam as saxifragas, angélicas e campainhas, e começam a fixar-se alguns salgueiros. Quanto à fauna, convém lembrar a abundância de peixes de águas frias, que incluem o nosso amigo bacalhau, para além de uma série de mamíferos aquáticos, como as focas do Árctico e dezassete tipos diferentes debaleias, a quem os islandeses não dão muito descanso apesar de todos os apelos internacionais.
Mais em terra, depois de as renas terem sido consideradas extintas nos anos trinta, e de os ocasionais ursos polares serem sempre expulsos para o mar a tiros de caçadeira, resta destacar as raposas e as martas, para não falar na abundância de ovelhas e dos característicos cavalos islandeses. A ilha é particularmente rica em aves. Para além de uma série de espécies vulgares, como gaivotas e carriças, também existem grandes colônias de moleiros grandes, de papagaios-do-mar, e diversos grupos de gansos e patos distribuídos pelos lagos e pântanos do país. Os insectos fazem-se representar por algumas borboletas e uns mosquitos que, a avaliar pela sua voracidade, devem ser aparentados com vampiros.


Islândia
Islândia
Islândia
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GUIA DE VIAGENS



LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ISLÂNDIA

A Islândia é o território mais a Norte do continente europeu, sendo o seu vizinho mais próximo a Gronelândia.


CLIMA

A informação anterior justifica que se avise o potencial visitante sobre a necessidade de viajar durante o pino do Verão, de preferência em Agosto.


COMO CHEGAR À ISLÂNDIA

Pesquisa e reserva de voos na eDreams
Iceland Air, em combinação com a Air France ou a British Airways, voa para Reiquejavique por cerca de 1600 euros. Uma vez na Islândia, só há uma estrada alcatroada, onde circulam os transportes públicos regulares - a “ring road”, assim chamada porque circunda a ilha. Para aceder ao interior, só de viagem organizada, jipe BTT - ou a pé.


HOTÉIS NA ISLÂNDIA

Hotéis
Na capital não falta escolha, do Youth Hostel ao luxuoso Hotel Saga. Um pouco por toda a ilha, é possível encontrar um dos Edda Hotel, que funcionam como casas de estudantes durante a época escolar e hotéis durante o Verão, e que são uma boa opção para o equilíbrio qualidade/preço - não esquecendo que este é um dos países mais caros da Europa..
Reserva de hotéis na Hotelopia
Pesquisa e reservas em Hotelopia: Hotéis Islândia


A NÃO PERDER

Islândia
Islândia
A natureza é, de facto, o mais espantoso espectáculo da ilha. Dos locais a não perder destacam-se os Parques Nacionais de Skaftafell, Thingvellir e Jokulsárgljúfur. O primeiro protege parte do Vatnajokull, o maior glaciar da Europa e, mesmo ao pé, pode percorrer-se de barco a enorme lagoa de Jokulsárlón, por entre enormes icebergues. No último fica a gigantesca queda de água de Dettifoss. Também a de Godafoss, perto do géiser Strokkur, é muito impressionante. Passear nas margens do lago Mývatn, subir ao vulcão Kraflae percorrer a área de Landmannalaugar são pontos muito altos numa viagem à ilha. Caso tenha tempo, não perca também uma visita à ilha de Vestmannaeyjar, mais a Sul.


O QUE COMPRAR NA ISlÂNDIA

O artesanato mais interessante são os tricôs (camisolas, gorros, luvas, etc.) com desenhos nórdicos. Certas joalharias também oferecem jóias de prata de grande beleza, com design de inspiração viking.


ONDE COMER

Nas duas cidades principais estão representadas as cozinhas internacionais (indiana, italiana, etc.), grande parte dos cafés têm refeições económicas e não faltam os fast food americanos. Em Reiquejavique há pelo menos um restaurante vegetariano, na rua Laugavegur nº 20. Um dos mais bem cotados lugares para comer é o moderníssimo restaurante Perlan.



O QUE FAZER

Para quem não se importa de fazer esforço, a exploração de certas partes da ilha, como o interior e algumas áreas de fiordes, faz-se melhor de bicicleta, a pé, ou com os pequenos cavalos islandeses. O turismo pode dar-lhe informações sobre este tipo de actividades, à chegada a Reiquejavique: Tourist Information Center, Bankastraeti 2. Caso contrário, também há excursões e pequenas viagens organizadas para todos os lugares acima referidos.


Fonte: .almadeviajante.com