segunda-feira, 15 de outubro de 2012

'Acqua alta' em Veneza, Itália

Moradores e turistas molham os pés em meio à primeira 'acqua alta' da temporada em Veneza, na Itália. O fenômeno ocorre com a combinação de marés altas e um forte siroco, vento característico da região do Mar Mediterrâneo.

A Itália é um país encantador… Veneza é para sonhar…  Quem visitou pode confirmar isso. Você deve conhecer a Itália e passar na Praça São Marcos, um marco turístico, deslumbrante da Itália. Ir a Itália e não passear na praça São Marcos é como ir a Roma e não ver o papa.

Acqua alta é um fenômeno que ocorre com frequência na cidade de Veneza, Itália, devido geralmente às marés altas e da primavera. Inclui a inundação das áreas mais baixas da cidade de Veneza, e, em casos graves, pode eventualmente incluir 96% da cidade. A definição oficial é que a água é tida como "alta" quando o seu nível é superior a 90 mm acima do nível normal da maré.

 Quem resiste a um fenômeno desses…    Lugar encantador onde turistas e moradores podem apreciar o fenômeno da natureza…

Este fenômeno acontece na estação das acquas altas, que significa: ‘acqua alta’  um fenômeno formada pela maré alta e pelos fortes ventos, e deve provocar uma alta de 115 centímetros no nível do mar na cidade. Um dos pontos turísticos mais procurados pelos visitantes.



Veneza submersa
A mais bela cidade do mundo está sucumbindo ás marés altas como nunca. Há anos estuda-se de diversas maneiras barrar o avanço do mar, na prática , porém , nada foi feito até hoje. Falta dinheiro e Veneza corre risco de vida , com cada vez menos moradores e mais turistas, poluição e água.

Todo o incalculável patrimônio histórico e cultural de Veneza, na Itália, está afundando. A cidade-sonho da costa do Adriático, insulada no interior de uma laguna de 55 quilômetros de extensão por 13 quilômetros de largura, está morrendo. Cinqüenta anos de transformações industriais alteraram catorze séculos de equilíbrio delicado entre a cidade e a laguna. Marés cada vez mais altas afogam Veneza e seus famosos “palazzi”.



Soluções tecnológicas sofisticadas podem deter o mar. Mas há trinta anos discutem-se causas, estratégias e custos. O preço é alto e a vontade política, pouca. E, pior, enquanto o tempo passa, desaparece a matéria-prima de qualquer recuperação — os venezianos. Em 1954, eles eram 175 000 em 1974, 108 000; hoje, não passam de 78 000.

A Veneza de Goethe, Mozart, Nietzsche e Thomas Mann virou uma cidade-fantasma. Tem cada vez menos padarias, mercearias e cinemas. E cada vez mais turistas.

Veneza convive com a maré alta, acqua alta em italiano, desde a sua fundação, no século VI. Mas, com o passar do tempo, o subsolo cedeu e o piso da cidade baixou 23 centímetros em relação ao nível médio do mar em 1900. Para resolver a questão, desde o século XVI duas teorias se confrontam. A primeira defende o fechamento das três entradas da laguna, por onde a maré alta passa: elas seriam trancadas. A outra teoria prega a preservação máxima da laguna, atribuindo o aumento do impacto das marés aos detritos industriais e urbanos que se acumulam no fundo da laguna.

A pior fase começou com o desenvolvimento industrial. Em 1920, surgiram aterros nas margens da laguna, do lado do continente, onde ergueram-se as cidades de Mestre e de Marghera, um porto. Na década de 50, período de grande crescimento econômico no pós-guerra, a cidade de Marghera foi muito ampliada com novos aterramentos para a construção de um vasto complexo petroquímico.

Na laguna, cuja profundidade média não ultrapassa 2 metros, escavaram-se canais para a navegação de grande calado, com 5 quilômetros de extensão e 15 metros de profundidade. Por eles, passaram a entrar enormes volumes de água Finalmente, em 1973, veio um novo aterramento, para a construção do aeroporto Marco Polo.

Há treze anos, formou-se o Consorzio Venezia Nuova para recuperar a bacia lagunar, integrado por várias empresas, como a Fiat, Iri-Italstat, Mazzi, Girolla, Lodigiani e Sacaim. Em 1988, criaram-se mais quatro consórcios semelhantes. Até agora, porém, foram feitos apenas testes e estudos. A crise econômica restringe a disponibilidade de recursos.

Às 17 horas do fatídico dia 4 de novembro de 1966, a maré alta atingiu o recorde histórico de 1,94 metro. As ondas impelidas pelo vento scirocco passaram por cima das muralhas na costa, entraram pelas bocas do porto e foram açoitar o Palácio dos Doges. No centro histórico e nas ilhas do estuário, 16 000 famílias e comerciantes perderam quase tudo. Todos os 432 transformadores elétricos da cidade explodiram, deixando os venezianos em pânico, no escuro, durante três dias.

Quando a água começou a recuar, lixo, móveis e mercadorias amontoavam-se em todos os cantos. Manchas de óleo e gasolina tingiam ruas e prédios. Barcos e gôndolas jaziam, quebrados, nas ruas. Milhares de ratos encurralados nas pontes e nos andares superiores das casas ameaçavam os moradores. Gatos, pombos e ratos mortos boiavam nos canais.

Um cenário inesquecível: calçadas afundadas, encanamentos entupidos, ralos abertos e milhares de toneladas de sujeira. Praças, jardins e plantações desvastados. Os danos ao patrimônio cultural foram gravíssimos. A cidade parecia abatida pela peste, como no romance do escritor alemão Thomas Mann, Morte em Veneza.

Para os venezianos, as marés viraram uma ameaça constante. A família de Massimo Cannaregio, 32 anos, é uma das que desistiram e mudaram-se para Mestre: “Vivi a primeira infância em Veneza”, diz ele. “Nossa residência ficava no segundo andar de um prédio restaurado do século XVIII. Quando tinha quatro anos, minha família foi embora, porque a casa estava sempre úmida. A enchente de 66 fez um estrago danado e custaria muito dinheiro para reformar o prédio. Vendemos o imóvel por uma ninharia.”

Constrangida pela fragilidade ambiental, “a cidade mais bonita do mundo” transferiu moradores de seu centro histórico para aquela que os italianos chamam de “a cidade mais feia do mundo” — Mestre. Veneza esvaziou, enquanto Mestre inchou, sem nenhum planejamento urbanístico. Passou de 37 000 habitantes, em 1921, para 57 000, em 1951, 161 000, em 1961 e 205 000, em 1971.

Os jovens são os primeiros a sair, em busca de emprego, qualidade de vida, automóvel, lazer e outros consumos de que Veneza não pode proporcionar. Ali resiste a população mais velha da Itália: média de 46 anos, contra 40 anos da média nacional. Há poucos espaços para crianças. E cada vez menos infra-estrutura urbana.

Veneza não tem condições de virar uma espécie de Disneylândia, eternamente lotada de turistas. Nem os venezianos gostariam disso. Eles querem a mesma cidade, com canais em vez de ruas asfaltadas. Gaivotas em vez de vira-latas. E barcos (os vaporettos) em vez de ônibus.

A cidade é frágil e vive por um fio, sempre torcendo para que outra maré alta catastrófica, como a de 1966, não se repita. Mas para sobreviver terá de sair de seu imobilismo. Terá aprender a controlar as marés.
(Superinteressante)

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